Um doce negócio

Empresária conta como conseguiu criar a maior franquia especializada em bolos do País e alcançar um faturamento anual de R$ 50 milhões

Por Ana Claudia Machado

*Reportagem publicada na 10ª Edição da Revista Gestão & Gastronomia

Cleusa Maria da Silva: ex-cortadora de cana-de-açúcar se tornou uma empresária de sucesso Foto: Divulgação

Cleusa Maria da Silva: ex-cortadora de cana-de-açúcar se tornou uma empresária de sucesso
Foto: Divulgação

Há 16 anos, em uma pequena cidade do interior paulista, foi aberta a primeira loja da rede de bolos Sodiê Doces. Naquela época, Cleusa Maria da Silva, que havia trabalhado na infância como cortadora de cana-de-açúcar e, na juventude, como empregada doméstica, investiu R$ 20 mil na inauguração de um espaço com 20 m² em Salto, a pouco mais de 100 km de São Paulo. Era a realização de um sonho, visto que, para conseguir a verba, Cleusa conciliava o trabalho em uma fábrica de alto-falantes com as encomendas de bolo que vendia nas horas vagas.

O negócio, aliás, começou sem muitas pretensões. Sua chefe na fábrica fazia bolos para festas de casamento, mas um dia ficou doente e pediu ajuda para conseguir entregar uma encomenda. Sem nunca ter pensado em se tornar uma boleira, Cleusa ouviu elogios a respeito do bolo de 40 kg que preparou. A motivação para seguir no ramo veio da própria chefe, que comprou uma batedeira planetária e incentivou a funcionária a complementar a renda familiar, que não passava de um salário mínimo. “Minha vida mudou muito depois desse empurrãozinho”, relembra.

Ao perceber o sucesso que os bolos começaram a fazer, com um número cada vez maior de pedidos, o olhar empreendedor de Cleusa vislumbrou um futuro promissor. E ela não estava errada: menos de duas décadas após o ocorrido, a empresária comemora o faturamento médio anual de R$ 50 milhões e o título de maior rede de franquias especializada em bolos do País, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF).

Apesar do bom desempenho que alcançou, Cleusa deixa claro que o início exigiu esforço e dedicação. O trabalho era exaustivo: começava por volta das 6 horas da manhã e, muitas vezes, adentrava a madrugada. Isso porque ela dava conta de todas as tarefas, do atendimento à produção, pois não tinha funcionários. “Consegui contratar uma pessoa para me ajudar só depois de seis meses que a loja estava aberta”, conta.

Com o tempo, o espaço da loja já não comportava a quantidade de clientes. A Sodiê então se mudou para um empreendimento próximo, com 80 m². Foi o primeiro passo para a ampliação do negócio, que ganhou novas unidades em cidades vizinhas: Itu, Indaiatuba, Sorocaba e Americana – todas abertas em sociedade com irmãos e amigos.

O modelo de franchising foi adotado somente em 2007, após anos de pesquisas e pedidos de clientes. De acordo com Cleusa, muitos fregueses da capital viajavam até o interior para comprar os bolos. “Eles reclamavam da distância e me sugeriam a abertura de filiais”, conta.

Para estruturar a marca como franquia, Cleusa contou com uma consultoria especializada no desenvolvimento e expansão de redes. Com uma análise mais aprofundada do mercado, a Sodiê se estruturou e atraiu o olhar de investidores. “Em menos de três anos a rede já tinha 70 lojas”, enfatiza Cleusa. Segundo ela, foi uma surpresa tão grande que, em certa altura, ela pensou em barrar o crescimento. “Tentei parar quando alcançamos 50 unidades, mas percebi que a expansão era o reconhecimento e a consequência de anos de trabalho”, explica.

NOVOS MERCADOS

Com 142 lojas abertas e expectativa de fechar 2013 com 150 unidades, a Sodiê está presente atualmente em quatro Estados (São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul) e Distrito Federal. Das últimas inaugurações, o grande destaque foi a abertura da primeira unidade da rede dentro de um shopping center.

Trata-se de um modelo novo, com conceito premium, lançado como projeto-piloto no Golden Square, no município de São Bernardo do Campo, na região do ABC Paulista. A unidade oferece porções gourmet de bolos de até 600 g – selecionados entre os mais de 80 sabores do cardápio oficial da rede –, além de doces feitos com coco ou leite em pó.

Em um momento que muitas redes estão fazendo o caminho contrário, deixando as praças de alimentação em busca de outros pontos, a Sodiê está disposta a enfrentar um novo desafio. Segundo a fundadora da rede, a ideia por enquanto é testar o modelo e, até os próximos dois anos, verificar a aceitação do público. “Sabemos que os custos dentro desses grandes empreendimentos são mais altos, então estamos cuidando de tudo com muita atenção. A franqueada que está à frente do negócio, por exemplo, já é nossa parceira e administra uma loja de rua há mais de um ano”, explica ela.

Além de entrar no mercado de shoppings, a meta da Sodiê é chegar em cidades do Nordeste, ampliar a atuação na região Sul e estrear no Rio de Janeiro, Goiás e Espírito Santo. Há planos, inclusive, de internacionalizar a marca com a abertura de franquias em outros países. Segundo Cleusa, duas cidades norte-americanas serão as primeiras a receber unidades da Sodiê, previstas para serem abertas em Miami e Orlando – ambas na Flórida. Países vizinhos, como Argentina, Peru e Chile também estão na mira da empresária. “As negociações já estão em andamento”, diz.

ESTRUTURA DA GESTÃO

Para dar conta de tamanha expansão, a gestão da rede tem uma estrutura com dois grandes focos: administrativo e operacional. Em ambos, Cleusa conta com a ajuda de consultores. São eles os responsáveis por supervisionar pontos específicos do negócio.

Na parte administrativa, por exemplo, há um consultor para prospectar pontos, um para cuidar da gestão financeira dos franqueados, e ainda um outro que é responsável pela parte dos sistemas e softwares usados em todas as lojas. Já na parte operacional, há uma nutricionista que coordena consultores que se revezam para acompanhar a qualidade dos produtos, a manutenção dos padrões, o treinamento dos funcionários, entre outras diversas tarefas. Não há, portanto, um organograma sistematizado. Dessa forma, todos os consultores funcionam como braços direitos da dona e respondem diretamente a ela.

Um dos pontos-chave da gestão é a parceria com uma gigante do setor alimentício. A Nestlé Professional é responsável por fornecer mais de 70% dos insumos utilizados na preparação dos bolos. O contrato de exclusividade permite que a Sodiê tenha o selo de uma marca reconhecida internacionalmente. Além disso, devido aos sistemas de distribuição e operação logística, a Nestlé acaba por facilitar o acesso dos franqueados às matérias-primas.

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