A força das redes

A internet oferece uma promessa sem precedentes de cooperação e comunicação entre toda a humanidade. O problema consiste em se deixar dominar por ela quando nós é quem deveríamos dominá-la

Texto e diagramação: Ana Claudia Machado

Revista Transcender (ed. nº 46 – agosto/setembro 2018)

A “era da informação” ou “era digital” são termos frequentemente utilizados para designar os avanços tecnológicos advindos após a década de 1980. E olha que de lá para cá muita coisa já mudou. Com a invenção dos computadores pessoais e, anos mais tarde, com o surgimento dos celulares, a sociedade se moldou a um novo modelo de vida. Mais recentemente, com os smartphones e a expansão do acesso à internet, a globalização ganhou uma outra cara – e ela é estampada principalmente nas redes sociais.

Não há dúvidas de que essas plataformas digitais de comunicação podem ser bastante úteis, afinal, o homem é um ser relacional que precisa do outro para se desenvolver. O lado negativo nas redes sociais, no entanto, é que há muita gente escondida em perfis que não são absolutamente verdadeiros, compartilhando uma vida que, muitas vezes, passa bem longe da realidade.

Além disso, a principal discussão agora é sobre o perigo do vício, ou seja, quando a pessoa não se desliga e fica ansiosa se não consegue acessar as redes. E engana-se quem pensa que apenas os jovens se tornam dependentes. Um jornalista da agência de notícias Bloomberg, por exemplo, relatou como esse vício entrou em sua vida. “Acho que fiquei viciado por causa do meu trabalho. Quando comecei como repórter, no final dos anos 80, era comum usar as próprias pernas para obter uma história. Com o tempo, ficou progressivamente mais fácil com e-mail, internet, mecanismos de busca, redes sociais e comunicação móvel. Com alguns cliques, eu poderia acompanhar o que estava acontecendo em vários países por meio de uma rede de amigos no Facebook”, escreveu Leonid Bershidsky em sua coluna no jornal norte-americano.

Segundo ele, um dos principais pontos que tornam as redes sociais viciantes é que elas sempre trazem novas notificações. “Tocamos em nossos smartphones – toque, clique, deslize – mais de 2.500 vezes por dia. Isso é provavelmente 100 vezes mais do que tocamos quem está ao nosso lado. A razão pela qual fazemos isso é que o telefone exige atenção constante. E ele faz isso ao enviar notificações o tempo todo. As notificações, por sua vez, têm um propósito comercial quase dissimulado: quando começamos a jogar com o celular, provavelmente abriremos mais aplicativos, veremos mais anúncios, compraremos mais itens”, desabafou o jornalista.

As observações a respeito das notificações têm fundamento: elas realmente são um recurso utilizado para manter as pessoas com os olhos na tela do celular. Inclusive, existe um campo de pesquisa dedicado a tornar as pessoas inconscientemente conectadas a smartphones, tablets e computadores. É conhecido como design de vício e foi inventado por especialistas em Experiência do Usuário (também conhecido pela sigla UX). Trata-se de uma técnica que usa truques neuropsicológicos para manter a atenção de nossas mentes.

Como isso é possível? Bom, talvez você já tenha ouvido falar sobre como receber uma curtida em algo que você postou em uma rede social lhe dá uma sensação de prazer. Saiba que é justamente essa “injeção de dopamina” que o mantém conectado.

Deixe um comentário